MESTRES DO CLUBE (VICE PRESIDENT)

continuando a série "Os mestres do clube" com o nosso vice presidente.

"Vindo Direto do bar senhoras e senhores aqui esta ele... Dean Martin."

Nome Completo:
Dino Paul Crocetti

Signo:
Gêmeos

Local:
Steubenville, Ohio, EUA

Frank bebia, Dean fingia beber. Frank amanhecia sem dormir, Dean dormia cedo.
Eles viviam aprontando um com o outro. Uma vez Sinatra pagou mil dólares para uma mulher esperar Martin nua na cama, depois de um show. Martin pagou dois mil dólares para ela ir ao apartamento de Frank falar que ele era magnífico.

Outra vez Dean estava dando uma festa em sua casa, mas as coisas começaram a ficar quentes demais, com muita bebida, gente dançando loucamente. De madrugada a festa foi interrompida por um camburão da polícia acabou com a farra. A esposa de Dean foi procura-lo mas não encontraram. Frank perguntou para o policial que foi quem tinha sido o filho-da-puta que tinha avisado. O policial disse que não tinha ordens de falar. Frank se exaltou e o policial acabou revelando que a ligação tinha saído da casa mesmo. O cantor entendeu na hora. Correu ao quarto de Dean e o encontrou já de pijama, assistindo a tv e pronto para dormir.
“- Mas você chamou a polícia para acabar com sua festa!”.
No que Dean respondeu calmamente: “Ora Frank, todo mundo já comeu, já bebeu, e eu estou morrendo de sono, tenho que acordar cedo amanhã.”. Frank disse-lhe sorrindo. “-Ora seu carcamano”

Certa vez Dean falou, sobre a amizade que os unia: “Frank e eu somos irmãos, sabe? Cortamos a ponta dos nossos polegares e nos tornamos irmãos de sangue. Ele queria cortar o pulso. Eu disse: ‘O que, você está maluco? Não, aqui já basta!”

Rolling Stones foi uma das primeiras bandas de rock que tinha algum apelo. Há uma passagem do início da carreira deles (que eles mesmos sempre gostam de valorizar) em que foram “humilhados” pelo cantor da “velha guarda” Dean Martin no programa de TV que ele apresentava nos EUA em 1964, “Hollywood Palace”. Para apresentar a banda, Dean Martin soltou um monte de piadinhas, como “dizem que eles têm cabelos compridos... naaaaaah! É tudo ilusão de ótica: eles têm nucas menores e sobrancelhas mais altas”.
Mais adiante, num quadro com um malabarista fazendo números arriscados, ele soltou: “É o pai dos Rolling Stones. Ele vem tentando se matar desde que eles surgiram”.
Quando você é principiante, fecha com os roqueiros rebeldes e fica indignado com o velho babaca que zoou os representantes da juventude.

Bom, em 2004 Mick Jagger é “sir”, cavaleiro da coroa britânica, mamador do sistema que os Stones “combatiam” em seu furor jovem. Tem 60 anos. Quando foi o “velho” zoando com o “poder jovem”, Dean Martin tinha 47.
Hoje eu sempre gostei muito mais do Dean Martin que do Mick Jagger. O que ele fez com os Stones no programa foi apenas mais uma das avacalhações irônicas de toda uma vida.
Avacalhava com tudo, até ele mesmo. Nenhum assunto foi sério demais para que Dean bancasse o pretensioso. Se fazia de bêbado simpático no palco, mesmo que isso não caísse bem para pessoas ordeiras e tementes a Deus (apesar de gostar de entornar, profissionalmente ele não era tão bebum quanto fazia parecer).
Nos shows, cortava as músicas pela metade e dizia: “Se vocês querem a música direitinho, vão comprar o disco”. Muito mais salutar, vivo e imprevisível que os artistas que reproduzem milimetricamente cada nota igual ao disco.

No programa de TV, demolia com a maior cara-de-pau a dublagem das próprias músicas.
Não precisa correr pro Kazaa ou pro SoulSeek. A maioria das músicas de Dean não vale uma pataca. Baladas italianadas, romantismos em que ele mesmo não acreditava.
Há poucas pepitas como “Ain’t That a Kick in the Head”, uma das músicas mais deliciosamente cafajestes da história. Está no filme “Ocean’s Eleven” (“Onze Homens e Um Segredo”), em que uma gangue liderada por Frank Sinatra assalta cassinos de Las Vegas. Mais que o repertório musical ou o trabalho no cinema, Dean vale por sua pessoa pública que não se levava a sério. Já a vida privada, ele mantinha inalcançável. Algo talvez incompreensível hoje, na era de “Caras”, das notícias não-notícias e de blogs que informam como anda o umbigo do autor/da autora.

Sua trajetória (filmes com Jerry Lewis, cabeça do Rat Pack de Sinatra, apresentador de TV politicamente incorreto, não-entrevistável número 1) é tão misteriosa que só foi destrinchada no ótimo livro “Dino”, do jornalista americano Nick Tosches, que ama figuras fora do padrão (autor também de uma biografia de Jerry Lee Lewis).
A pilantragem artística de Dean Martin está acessível num DVD lançado aqui no Brasil em 2003, que saiu junto com um CD normal (“Live & Swingin’: The Ultimate Rat Pack”). O DVD traz um show de 1965 dividido entre ele, Sinatra e Sammy Davis Jr. (o trio central do Rat Pack, o “Clube dos Ratos”).
Ele faz que toma tombo, mete o microfone no olho, cantarola como se estivesse pedindo uma pizza.
Um não-astro. Um demolidor punk de smoking. Um iconoclasta mais autêntico que compositores baianos de Santo Amaro da Purificação que arrotam cultura brasileira para o varejo e têm apartamento fixo em Manhattan no atacado.
Não tem bonito nem conto de fadas com Dean Martin. Tem apenas o “vamos chutar tudo agora porque um dia todo mundo morre mesmo”. Difícil encontrar “Foda-se” mais charmoso e honesto.

Dean morreu no Natal de 1995 aos 78 anos